TEXTO SENTIDO 008 – Amigos por nada

Neste episódio, a amizade é o destaque. Para isso Antônio Viviani reuniu grandes amigos para realizá-lo. Começando pelo autor do texto “Amigos por nada”, William Oliveira, amigo de infância da querida Poços de Caldas.

Os outros amigos são citados pelo grande amigo Célio Guimarães (Idemur de Matos) na ficha técnica e para interpretar mais três amigos queridos: Edinho Moreno, Ronam Junqueira e Irineu Toledo.

Pra você ouvir e sentir…

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Amigos por nada

Sou como milhões: conheço centenas de pessoas, converso habitualmente com dezenas delas e tenho poucos muito amigos. Sim, porque amizade não é uma questão quantitativa, nem pode ser. Ninguém tem centena de amigos. A maioria conta seus amigos pelos dedos das mãos. Só Roberto Carlos é que, em uma antiga canção, afirmava querer ter um milhão de amigos… que comprassem seus discos e acabou conseguindo. Amigo de verdade não tem a ver com querer. Se alguém disser “quero ser seu amigo”, pronto, acabou a amizade, até porque cheira falsidade.

Amizade não é algo que se escolhe, não tem a ver com desejo, não exige esforço, nem experiência. Não exige currículo, carta de apresentação, nem bons antecedentes. Os amigos que tenho foram frutos de encontros fortuitos e que, sabe-se lá porque, continuaram fazendo parte da minha existência ao longo do tempo. Tornamo-nos amigos realmente sem querer. Não conheço ninguém que possua uma “caderneta de amigos” e, por favor, não me venham com esta história de amigos virtuais. Não desqualifiquem a palavra. Amigo é quem compartilhou com a gente, em corpo presente, alegrias e tristezas. Aquele que sabe da nossa história, que conhece o espelho de nossa alma e frequenta nosso coração. Derramou lágrimas ao nosso lado sem dizer uma única palavra e gargalhou junto por uma piada infame até ficar com dor no pescoço. Amigo mesmo até se esquece da data do nosso aniversário, mas lembra sempre de torcer diariamente para que a gente seja feliz. Não precisa estar geograficamente próximo, pois amigo de verdade reside permanentemente no quarto das nossas lembranças, no sótão das nossas memórias. Não precisa telefonar para gente a todo instante, pois sabe que a ligação é permanente.

Amigos nunca vão embora, pois a proximidade não é física, nem temporal. Amizade lembra algo genético, sem ser familiar. Parece muito com transfusão, mas não tem nada a ver com laços sanguíneos. Os amigos que tenho são pessoas fantásticas e, por isto mesmo, possuem muitos defeitos. Um deles é o mesmo meu: na maioria das vezes eles não dizem para mim os defeitos que tenho. Não é falta de sinceridade. Amigo não precisa ser sempre sincero, nem ser sempre mentiroso. Não precisa declarar que gosta da gente. Não necessita testemunhar, nem provar sua amizade. A amizade não precisa de justificativas. Ela existe por nada e apesar de tudo.

William Oliveira

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